
lembranças de menina
Data 23/06/2025 09:27:38 | Tópico: Poemas -> Saudade
| já não ouço o galo de madrugada nem o cão a ladrar ao vento já não colho fruta nem flor plantada mas trago ainda os gemidos do moinho no pensamento, e as mulheres fazendo o pão com a farinha e fermento
já não penduro cerejas nas orelhas nem procuro passarinhos novos nas telhas já não ouço o barulho dos alcatruzes nem apanho goivos liláses nem musgo do presépio, entre as urzes nem brinco com o pião como os rapazes
já não olho os peixes no rio por entre os junquilhos nem ouço o eco dos meus passos na ponte, morreram os homens que jogavam matraquilhos enquanto morria o sol no horizonte...
há sombras pelos campos e a praça está deserta, a fonte sossegada já não há moças namorando à noite pela calada aves já não páram aqui, partiram para parte incerta já só restam janelas fechadas, nem uma fresta! ninguém por elas espreita, apagou-se a vida nada mais resta...
na aldeia agora, só toca o sino da igreja a lembrar quem se foi nada a minha fé almeja e a saudade é muita, e dói!
ausentes estão minhas mãos e braços e de todos que partiram, perdi os abraços no baú que herdei, está minha velha roupa e da cozinha ainda me vem o cheiro da sopa o tempo tudo corrói, tudo traça só a aldeia continua cheia de graça
pretendo manter-me viva com esta paixão dentro de mim, escrevo-te este extenso poema olhando o firmamento e tudo perdura até a saudade sem fim...no coração!
perco-me por entre os laranjais e ouço as rãs, na memória os rumores e o piso escorregadio lembro por demais do açude, e da roupa branca no sabão, toco flores, num avanço e recuo doce e de novo a saudade no coração lembrando a menina, como se ainda o fosse.
e aquele pássaro ainda me canta aos ouvidos e à noite o luar devolve-me os sentidos ouço um murmurar que me traz tranquilidade o murmurar duma infinita saudade...
natália nuno
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