
Me disseram. Eu não vi.
Data 05/07/2025 11:36:24 | Tópico: Poemas
| Aguardo a sacrílega intervenção, Mas do céu só cai desgraças com sons. Mísseis teleguiados, e nenhuma oração Não impedem a potência dos mil megatons.
E ouço choros pueris, e não vejo ninguém, No fundo do abismo onde escorre escarlate, Um líquido viscoso que vai para além Do alcance daquilo que no peito bate.
E ficamos indiferentes aos sofrimentos Alheios, e não sabemos onde estamos, E para que estamos nestes acampamentos. Ninguém se importa com os planos que traçamos.
Ribomba tronitoante forte.Não foi um trovão. Era algo criado por mãos não tementes. Arrasava quarteirão. Não era de Deus, não. Na rua não havia sequer um crente.
As rezas cessaram, e os homens partiram; Levaram consigo toda uma geração. Eu não estava lá, foi depois que eu soube Que meus irmãos morreram por tiros de canhão. E vi a vida se esvair na escuridão.
E a água não se fez vinho, a tábua se tornou pedra. Não tenho mais vizinhos, findou-se nossa era. E eu me fiz lodo, louco, terra.
E os homens lá de cima, sorrindo, sem pesar, E as crianças sem casas, choraram, sem um lar. Um deus de gesso caiu, sem nenhum alarde. Era domingo e não tinha mais tarde.
E eu não estava ali. Me disseram. Eu não vi.
|
|