
Monólogo da Senhora dos Vocábulos Altivos
Data 11/07/2025 11:56:39 | Tópico: Poemas -> Crítica
| Ah, mundo irrequieto e despojado de nobreza, Por que trocastes o cetro das palavras Pelo grunhido da pressa e o murmúrio da vulgaridade? Outrora, a linguagem era tapete estendido Para o pensamento passar em glória. Cada vocábulo, uma relíquia; Cada frase, um relicário. Lembro-me do tempo em que até os silêncios tinham títulos, E os adjetivos curvavam-se antes de servir ao substantivo. Hoje, corre-se ao dizer, tropeça-se no falar, E se arranca do verbo o véu da reverência. Mas eu persisto. Ergo minha voz como quem acende um candelabro Em meio a uma noite de neologismos selvagens. Pois ainda creio que há beleza no elevado, Que há dignidade na escolha precisa, E que o pensamento merece ser vestido Com mais que trapos ocasionais. Sim, chamem-me arcaica, anacrônica ou altiva Aceito todos esses títulos como medalhas. Pois onde o mundo vê excesso, vejo forma. Onde vê rebuscamento, vejo escultura. E quando tudo ruir, Serei a última a pronunciar com voz firme: 'Ainda resta linguagem'. Poema: Odair José, Poeta Cacerense Obs. Dizem que ela habita bibliotecas esquecidas e corredores onde o silêncio respira com reverência. Veste-se com tecidos antigos e leva um caderno de couro onde escreve, com pena e tinta, as palavras que julga dignas de permanecer. Seus olhos veem o mundo como um palácio em ruínas, mas sua língua, ainda assim, insiste em tratá-lo como realeza. www.odairpoetacacerense.blogspot.com
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