Estômago

Data 12/07/2025 18:14:18 | Tópico: Poemas

Estômago
Prefácio

Este poema integra um estilo literário experimental que estou desenvolvendo, baseado na construção narrativa reduzida a substantivos, verbos e pontuação. A ausência proposital de adjetivos e advérbios convida o leitor a preencher as lacunas emocionais e sensoriais, completando o texto com suas próprias impressões, valores e filtros pessoais. Assim, a história torna-se aberta, permitindo múltiplas interpretações subjetivas, sem descrições fechadas ou julgamentos prévios. Trata-se de uma proposta que busca aprofundar a participação ativa do leitor na construção do sentido.

Prato. Garfo. Armário. Porta. Abrir... Nada.

Cheiro. Boca. Saliva. Amarga. Mãos. Dedos. Rosto. Joelho. Busca.

Raspar. Raspar. Raspar. Lata. Parede. Som. Corpo. Corpo treme! Corpo grita! Corpo... cala.

Fome. Fome dobra tempo. Dobra rua. Dobra sonho.

Fila. Passo. Passo... Espera. Promessa? Mentira? Mentira. Mentira.

Papel. Nome. Carimbo. “Amanhã.” Olhos. Olhos da criança. Pele. Osso. Rosto.

Silêncio... Pressa! Roubar? Não. Sim? Dúvida. Dente. Boca. Fome — grito. Mudo.

Mãe... pensa. some. volta. Saco. Bolsa. Cabeça baixa. Vergonha.

Esconder — a fome. a vergonha. Olho no chão. Fuga. Pesa. Tremor.

Tonteira. Vista... escurece. Sonho: sabor! Caldo. Arroz. Carne!

Garfo. Gole. Riso — grito! Acordar... Boca. Saliva. Amarga.

Estômago. Dói. De novo. Sempre.

Elias dos Santos


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