
IR PARA CASA (continuação)
Data 20/07/2025 13:52:00 | Tópico: Textos -> Esperança
| Acordei as quatro da manhã, apanhei os baldes e fui surrupiar a agua na cisterna no trailer da esquina. Dei umas cinco caminhadas e completei os dois baldes grandes que nunca deixo seco. Abluir-me, bebi um café morno e amargo, que guardo numa velha e rachada garrafa térmica, que achei na lixeira do mercado. Vesti a farda diária e cai no campo ainda as escuras. Cheguei no Centro-Pop no Diamante, as seis e meia, uma muvuca de irmãos sem tetos esperavam o desjejum oferecido pelo órgão. As sete os portões do lado começaram a abrir e a moçada organizou uma fila beirando a fachada. e aos poucos fomos entrando, apanhamos os copos e descemos para a cantina no quintal. Nescau com bolacha salgada foram servidos – voltamos e cada um procurou um canto – eu sentei na beira da calçada em frente, no fundo do antigo hospital PAM-Diamante. Outros formaram grupinhos espalhando-se pelos cantos do estacionamento. Ao terminarem se dispersarem em varias direções. As oito, abriram o escritório. Os funcionários maus humorados entravam sem dar um bom dia. Entrei e ocupei uma cadeira e as outras também foram aos poucos ocupadas. Todos buscavam solução para seus problemas. Uma magrinha com cara de fritona viera reclamar que teve o beneficio cortado, outros assim como eu, vieram buscar o cartão. Dei a minha RG a um funcionário, o mesmo que me atendera há um ano atrás, na sede da Rua da Saavedra e dera-me a boa noticia que o auxilio fora aprovado e que o recurso de três meses retroativos estava depositado na Caixa Econômica. Ele retornou e entregou-me um envelope e pediu-me para mim assinar uma lista. Ele olhou para os meus pulsos e perguntou: - O sr. Não recebeu a pulseira? - Não. Ele virou-se para uma funcionaria e pediu-lhe que me desse uma, com ela podia almoçar gratuitamente em qualquer restaurante popular do estado. Agradeci-lhe. Com o cartão podia receber o auxilio em qualquer caixa eletrônico ou casa lotérica. Beleza. Mosquei um pouco pela Praça Deodoro e as dez e meia rumei para enfrentar a fila no “Bandejão” na Camboa. Era sexta-feira, dia de feijoada e dobradinha. Valeu, o rango gostoso, repeti o prato com um real que um chegado me deu. Embarquei num Paraiso-Renascença numa parada próxima, deu um balão pela cidade e uma depois descia na Vila Embratel e rumei para a minha bat-Caverna. Antes do anoitecer, acendi o fogo – uma pequena fogueira no quintal para assar umas jabiracas secas e comê-las com pirão de farinha d’agua. Com a escuridão enfurnei-me no meu quarto, o colchão estendido no chão. Acendi uma vela e li uma Veja das antigas que encontrei por acaso jogada na rua. Os mosquitos e os grilos faziam suas festas. Hora depois assoprei a vela e o manto da escuridão cobriu silenciosamente a outrora e iluminada Pensão Vince.
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