Exilio forçado ll

Data 03/08/2025 19:01:55 | Tópico: Textos

II

Pelos olhares cumplice trocado entre eles, percebi que não vinha nada de bom. Ela fechou a cara enfezando-se e puxando-o pelo braço para a cozinha e começaram falando baixo, mas a coisa foi esquentando, ouvia somente a voz rouca dela. A bebezinha alheia ao meu drama sorria assistindo o animado desenho animado e sempre chupando a chupeta. As altercações continuavam:
- Tu te lembra do que ele fez conosco, quando precisamos dele?
Santo Deus, ela foi buscar uma rusga do passado, ocorrido a bastante tempo. E voltaram ofegante, ela vermelha como um pimentão e o rosto uma face do mal.
- Não dá, mano! Sinto muito – disse laconicamente meu mano velho sem me encarar. – Não dá mesmo.
Olhei por baixo e percebi que era besteira retrucar a decisão foi monocrática. Sim, no passado neguei ajuda a meu irmão e eles nunca esqueceram. Eu recebi uma boa indenização do meu primeiro emprego e ele pediu-me emprestado para inteirar a compra da casa, a mesma que eu buscava refúgio e neguei ajuda-lo alegando umas desculpas. E agora a situação revertia, justiça divina?
Baixei a cabeça, a cocei e fiquei com vergonha de encara-los ou suplicar, peguei meus trens e sai com o rabo entre as pernas. A bebezinha branquinha ria inocente.
De volta a rua pela segunda vez. Pensei em procurar os outros manos mais abastados que moravam em apartamentos em condomínios – desisti, nenhum deles dar-me-ia guarida. Lembrei-me de uma conta conjunta, uma poupança para comprarmos um carro, sendo que a maior parte era minha. Com o cartão na mão entrei numa fila do caixa eletrônico do supermercado Carone. Depois de meia hora, descubro que a conta foi bloqueada e não tinha nenhum saldo. A desgraçada puxou o meu tapete, deixando bem embaralhado. Dei um murro no caixa e sai as apalpadelas no meio da multidão. E agora?




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