ME LEVA PARA CASA

Data 07/08/2025 02:42:21 | Tópico: Poemas

Hoje acordei antes do sol,
mas era como se o mundo tivesse virado as costas.
Fiquei olhando o teto, tentando lembrar
do que ainda me prende aqui,
além do costume e da falta de coragem pra fugir.

O café esfriou na xícara,
e eu nem notei —
o pensamento já tava em você,
no teu jeito de sorrir como quem não carrega o peso do mundo,
mesmo tendo apanhado dele também.

Cansado das mesmas ruas,
dos mesmos rostos,
dos mesmos dias que passam e não deixam bilhete.
Mas quando fecho os olhos,
é teu nome que ainda faz barulho aqui dentro.

Eu ainda trampo muito,
e tropeço em escolhas que não contei pra ninguém.
Já tive medo de virar estatística,
mas você me mostrou que existe saída
mesmo quando tudo parece ruína.

Sonhei esses dias com um filho,
tendo teus olhos e minha falta de jeito.
Imagina ensinar ele a amarrar o tênis,
igual eu me amarrei em você
no nosso primeiro abraço.

Não foi só um toque.
Foi um pedido mudo de socorro
que você entendeu sem perguntar nada.

Já caí em cilada,
já vendi minha calma pra quem não soube cuidar.
Já assinei promessas furadas
e vi meu nome virar número numa conta que nunca fechava.
Mas mesmo com tudo isso,
tô aqui.

E se for pra continuar,
que seja do teu lado.
Sem luxo, sem pressa,
sem essa porra de perfeição que ninguém alcança.

Me leva pra Marte, mulher,
pra um lugar onde o silêncio não machuca.
Um lugar onde a gente possa errar
sem ser julgado por existir errado.

Me leva pra onde teus olhos sejam o único mapa.
Onde a vida comece quando a gente se encosta.
Não preciso de paraíso,
só de ti —
com teus defeitos, teus traços,
e essa mania linda de me fazer querer ficar.

E se um dia a vida cansar da gente,
e tudo virar ruína ou poeira no tempo,
que ao menos eu tenha lembrança do teu cheiro
guardado entre os meus dedos,
feito promessa que nunca precisou ser dita.

Porque te amar
foi o único plano que eu tive
que nunca me cobrou resultado.


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