Entre regras e ruínas

Data 07/08/2025 08:34:03 | Tópico: Poemas


O poeta não fala.
Constrói silêncios com sílabas feridas
como quem fecha os olhos
para escutar melhor a dor.

A gramática arde.
Sangue em combustão recusa sintaxe
desenha no corpo uma oração sem deuses
onde o amor tropeça nas vírgulas
que não se justificam.

Nos dicionários
a eternidade corrige-se com lápis gasto.
Os verbos morrem de cansaço
entre definições que não souberam sentir.

E o verso?
Talvez seja penitência
uma escada quebrada
entre o coração e a boca.

O poeta escreve.
Erra.
Insiste.
Como quem salta do abismo
e espera que a luz venha a tempo de traduzir
a queda em linguagem.

Resta o homem
esboço cru
tatuado de metáforas
que não consegue amar sem sangrar.

E o poema
esse pequeno exílio
desaprende a nascer
com medo de ser vivido.




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