
Quando aqui chegaram
Data 08/08/2025 22:02:56 | Tópico: Poemas -> Reflexão
| O mar abriu-se como uma ferida, E dele saíram homens cobertos de sal e ferrugem, Com o olhar afiado como lâmina. Nós éramos a terra — eles, a fome. Os seus passos esmagavam folhas Como se quisessem calar a floresta. Nossos olhos seguiam, Mas a floresta não se calava. Cheiravam a fumaça e ferro, E traziam no corpo a cor do pó Que não nasce daqui. O vento, antes livre, aprendeu a temer. Eles não vinham apenas com armas, Vinham com a certeza de que tudo tinha dono, E que o dono falava na língua deles. O ouro não brilhava para nós, Mas para eles era como sol engaiolado. E não há bicho mais perigoso Do que o homem que deseja prender o sol. Trouxeram suas cruzes para plantar no chão, Mas cada cruz era também um muro Levantado entre os nossos sonhos E o dia seguinte. Os barcos voltaram ao mar, Mas deixaram um rastro que não se apaga, Um sabor de sangue misturado à seiva, Um silêncio Que aprendeu a gritar dentro da terra. Poema: Odair José, Poeta Cacerense www.odairpoetacacerense.blogspot.com
Instagram @poetacacerense
|
|