
Viajandão II
Data 10/08/2025 20:06:42 | Tópico: Textos
| Três
Estou suando em demasia, talvez seja o efeito da metade da Zila@
Quebrei a minha promessa e como um velho alcoólatra encho a cara. Os meninos na Praça do Bacurizeiro estavam arreliados, discutiam entre si por besteira. Seu Berete, o peixeiro e funcionário público estadual deu-me um real em duas moedas de cinquenta centavos. Comprei um quarto de pinga no Finado Bispo que atendeu-me foi a filha dele. Pananã, o zelador do mercado fechava um dos portões, o de frente para avenida por onde esgueirei-me em companhia de Seu Lucas, também peixeiro e funcionário público estadual, velho conhecido de longas datas da época do Desterro quando trabalhava na Cibrazem ao lado de nossa residência senhorial. Uma senhora num carro pediu-me uma informação, onde era a delegacia? atravessei a pista, acenei-lhe para parar indicar-lhe melhor - tomo um gole. Adentro na Pensão Vince, o senhorio almoçava sentada na sua cadeira cerimonial e sigo direto para o meu quarto. Não estou ébrio e nem tampouco careta. Entorno toda a dose e o juízo volteia com um pião: - Universidade Fm oito para uma da tarde - anuncia uma locutora. Bateu uma saudade de Dona Van, toda branquinha. Águas passadas
Morreu o escritor americano Tom Wolf. "Vivendo & Escrevendo" foi aceito pela Novo Século, com aquela velha condição de comprar quinhentos exemplares. É sempre assim, nunca serei contratado por uma editora, mas também não pararei de escrever e vou consultar um psicólogo
Mittwoch
Não estou muito bem, ainda tremulo e alguns resquícios da ressaca desses três dias que nem sei como começou - não sei se foi no sábado ou no domingo, sei que terminei ontem. Tom Wolfe era fã de Graciliano Ramos e Jorge Amado - dois ícones que também venero e releio de vez enquanto para aumentar os meus conhecimentos literários. - Ei, campeão - saudou-me o carroceiro Barrabás sentado no varal da carroça carregada de armários velhos. Releio "O Caçador de Pipas" que foi emprestado pelo barbeiro Juraci, muito amigo do sr. K, o primeiro que li era da minha ex-cunhada Dona Bonete - o li muito rápido e há muito tempo. Uma boa surpresa ganhei uma cartela meiada de Ritalina, que tomo logo uma metade e guardo outra para a tarde . Ainda estou zonzo da Zila adicionada com o álcool de ontem.
Quase no final da tarde e nem sinal do Sr. Vince que saiu de manhã cedo. Delicio-me com Hosseini na longínqua Cabul antes dos soviéticos. Graças a Deus o Sr. Vince chegou quase as onze da noite.
Mais uma manhã
Ingeri outra metade da Rita@. Desempenei, soldei o quadro e torci os ferros do enchimento do portão de Miguel, colega de Gordinho e Claibon. Amanhã espero solda-los, deu-me uma canseira, aos poucos vou me recuperando. Estou meio desanimado uma amiga prometera comprar um livro se embananou toda e acredito que não conseguiu abrir o link da editora. Mas vou levando, estou chapado, o efeito duplicou.
Antes de fechar a oficina ingeri uma terceira parte. E para completar encontrei com Jean Gaspar na calçada de Dona Jurema que contou-me que encontrou comigo no domingo a tarde vacilando no bar de Dona Antônia e me recambiou para a Avenida Dom Pedro II no centro - onde bebemos umas latas - confesso que não lembro de nada – “Tu larga de tomar essas pílulas loucas, elas estão te deixando pirado” - alertou-me antes de iniciarmos a conversa. A Sra. Vince com o semblante carregada de preocupações debruçada no parapeito da mureta do terraço observando o movimento e pensando e eu nessa lisura de sempre, sem nada de bom a acrescentar, apenas esperando não sei o quê, talvez um milagre. Mas eles existem? Da minha parte resta apenas rezar ferozmente para que algo de bom aconteça - mas a situação está generalizada, todos tem os seus problemas as vezes até pior do que o meu. Mas Deus é Pai. Ainda me resta o consolo de meus sonhos literários para um futuro promissor. Olho para a máquina de escrever sobre a escrivaninha sinto uma ojeriza e um desanimo.
Freitag
Tudo começou com a solda na bicicleta cargueira de Seu Raposo - estava um pouco acima do chão da metade da Rita@ fazendo efeito e as mãos tremulas por nervosismo, devido a dificuldade na posição da solda. Mesmo assim me habilitei e soldei o suporte do pedal - Depois um acesso de tosse tomou conta de mim e o estomago revirou querendo dar uma golfada - fiquei nesse impasse por quase quinze minutos até que decidi que deveria beber ao menos duas latas de Kaiser. Conhecendo Seu Raposo pedi-lhe apenas duas latas que bebi bem devagar sendo a última na lojinha do Sr. K que guardava as confecções para fechar para o almoço. Secando a lata, deu-me uma louca fissura de beber e sem nenhum tostão no bolso. Contornei a Praça do Bacurizeiro. A galera estava debaixo da barricudeira olhando uns para cara dos outros e uma garrafa de pinga seca. Entrei no mercado e segui até o box do velho peixeiro Lucas que ao me ver foi logo dizendo: - Não gosto do abuso dos papudinhos. Levei-o na esportiva e sutilmente ferrei-lhe um real para uma dose de vodca. Deu-me a contragosto. Segui para o bar do finado Bispo, quem atendeu-me foi Gilmar, cumprimentei lhe em inglês e outras de italiano e encheu o copo como agradecimento. Retornei a Seu Lucas que guardava os peixes numa caixa de isopor e os cobriam de gelo, perturbei um pouco. Na saída, seu Biné, le president da feira fechava o portão. Atravessei a pista e sentei na calçada da casa de Tia Nena e sorvi todo o conteúdo do copo. - Agora vou enfrentar o meu calvário - pensei ao me levantar e dirigir-me para a pensão. Nos meus humildes aposentos - a Sra. Vince comia alguma coisa sentada no seu trono nem teceu nenhum comentário. Até agora a paz. Preparei uma omelete com o resto da carne moída de ontem que sobrou do jantar, a Sra. Vince quis protestar alegando que o fogo estava alto e o óleo muito quente - mas tratei de acalma-la. Scott Fitzgerald publicou o seu primeiro livro aos 24 anos - Leio na internet um livro sobre Max Perkins, o editor dos gênios entre eles Fitzgerald e Hemingway. Sra. Vince reclama do fedor que exala da minha camisa que empesta a sala. Depois de "O Caçador de Pipas" e a biografia de James Joyce debruçar-me-ei sobre os livros do mestre Fitzgerald, tentarei acompanhar a sequência de seus livros, como não tenho primeiro "O Outro Lado do Paraiso", lerei "Os seis contos da era do Jazz" depois "Suave é a noite", "O Grande Gatsby" e o seu último livro "O Último Magnata" escrito em Bollywood, deixando-o incompleto.
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