O Paninho Branco e o Vento - Por Chris Katz

Data 12/08/2025 16:22:32 | Tópico: Poemas


O Paninho Branco e o Vento

Olha…
no varal da tarde,
o paninho branco desperto,
tremulando como asa que
aprendeu a esperar.

Antes úmido, pesado de silêncio,
trazia no corpo o peso das chuvas
e das mãos que o torceram.

Agora, seco, exala um perfume de sol
recém-nascido, e, em sua alva calma,
pergunta às nuvens que se desfazem:
O que faremos agora e depois?

O vento, mestre das respostas que não se escrevem,
passa-lhe os dedos invisíveis
e o embala como quem diz:

"Depois é só o próximo sopro."

As árvores, cúmplices, inclinam-se um
pouco mais, ouvindo a conversa
entre tecido e ar, e deixam cair folhas
como cartas não enviadas

O paninho pensa nos fios que o compõem,
cada um guardando lembranças
de lavagens passadas:

o cheiro de infância correndo pelo quintal,
as manhãs de café e pão com manteiga,
o susto das trovoadas,
o abraço morno perto do fogo

E o varal, velho equilibrista,
sente-se guardião das pequenas eternidades,
segurando pregadores como quem segura promessas
que jamais devem cair no chão.

O sol se inclina, o dia se dobra,
e o paninho ainda balança,
tentando decifrar o depois
esse lugar onde todos os panos,
as pessoas e os sonhos chegam,
um dia, secos e prontos para outro uso.

Talvez, pensa ele,
o depois seja apenas voltar a servir,
a acolher migalhas, lágrimas ou sorrisos,
até que a próxima chuva o visite outra vez.

E assim, enquanto a noite chega
com seu manto de estrelas lavadas,
o paninho entende: o que faremos
agora é dançar, e o depois…
ah, o depois virá com o próximo vento.




Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=379811