A Terra e o Tempo

Data 16/09/2025 21:16:36 | Tópico: Poemas


Está no teatro mambembe e no circo,
na rua estreita e no salão brilhante;
na pocilga pobre, no palácio rico,
na casa de todos, na de nenhum habitante.

Habita o Céu, percorre o Inferno,
desce aos vales sombrios de Gimmerton,
e até neste verso se oculta — eterno,
que ora teço sem regra, noutro tom.

Vive no labor, no consumo e no cansaço,
na pintura, no compasso, em toda arte;
ressoa no tempo, no espaço, no abraço,
e no sumo secreto que o mundo reparte.

Sempre houve, sempre há, sempre haverá:
vem de noites desluadas antes de Cristo;
nas quedas de imperadores sua voz falará,
mistério sem origem, canto nunca visto.

Sopra na brisa, na bruma e na rosa,
nos dois olhos estrelados de Julieta,
na superfície inteira da Terra formosa,
e no lar simples faz sua festa secreta.

Brilha na copa prateada da laranjeira,
nos terrenos onde a serpente se insinua,
nos perfumes que ascendem da madressilva inteira
e elevam a alma ao clarão da lua.

Renasce à noite e percorre o dia,
com sua sonoridade de espuma e vento.
Nasceu do gozo da Terra e do Tempo,
e foi batizada, suavemente, de… poesia!


Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=380508