Batismo de Sombra

Data 24/09/2025 00:33:02 | Tópico: Poemas

No fim,
resta um espelho gasto, trincado.

Vejo-me ali, espalhada:
corpo de cacos,
um deus calado.
um rosto que não perdoa.

Escolhas — feridas abertas.
Omissões — um feto afogado, ao abandono.
Reencontros — um rio turvo,
o mesmo abismo
com outra roupa.

Escorre.
Da boca ao sexo,
do olho à lembrança,
escorre.

Um líquido sagrado e profano —
batismo de sombra.

Na fé que me mastiga
e me devolve ao barro.

Gritando o divino
com a língua suja.

Nada se detém:
nem o gozo,
nem o pranto,
nem o nome que me foi dado.

A corrente rasga o que resta,
os fragmentos me devoram,
cada fio de mim é também naufrágio.

E a vida inteira desaguando.




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