Diario de Oficina & Pensão - XIII

Data 05/10/2025 11:18:15 | Tópico: Textos

Natal

O estomago estropiado por uma dipirona que forçosamente ingeri para combater uma intensa cefaleia que me perturba desde cedo. A sra. Vince deu-me quatro reais que comprei uma cartela de quatro comprimidos.
Meu filhote veio passar algumas horas antes da meia-noite, assistimos "O Milagre da Rua 53" no you tube. Depois confessou-me que tinha dez reais para pagar umas latas de cervejas para mim. As oito e pouco saímos. demos um passeio pela avenida Sarney filho deserta, como estivéssemos na gelada Quinta Avenida ou nos arredores do Central Park como no filme 'Esqueceram de mim II" - Contornamos pela rua 5 e voltamos pela rua dez. Paramos no bar da esquina com a rua oito para comprarmos umas latas e sempre abraçados seguimos para a Praça do Bacurizeiro, onde nos sentamos num banco ainda húmido da chuva e ficamos a conversar, depois o levei para a casa da mãe. Nos abraçassamos afetuosamente, beijamos na face e desejamos mutualmente um feliz natal. Na volta, dei asas a minha carente imaginação. Talvez a mãe, a Dona Van, a musa de todas as musas juntas convidasse-me para passarmos a meia-noite juntos ouvindo Bing Crosby e Frank Sinatra e depois faríamos amor. Assim nem percebi quando cheguei a pensão. Antes da meia-noite, fui surpreendido com a visita do Casal K, que vieram convidar-me para uma simbólica ceia bem diferente, uma suculenta sopa nas dependências do Adolescento. Quando retornei a pensão estava em festa com os convidados da sra. Vince bebendo no terraço. Entrei rapidamente e enfurnei-me nos meus aposentos.

O lixeiro ao manipular a alavanca do caminhão desejou-me um profundo Feliz natal. Retribui também. Caia uma chuvinha . Delegado quieto de braços cruzados, sentado com sua enorme pança na cadeira de Seu Obina sorvendo tranquilamente uma lata de Sub-zero.
- Alô, poeta, meu companheiro, Feliz natal - congratulou-me o grande animador, o palhaço Mincharia, do carro de som fazendo a propaganda de uma seresta daqui a pouco em algum lugar.

Ainda pouco Nha Pú e Seu Obina quase entravam em choque, cada um querendo ser mais garanhão que outro. Claridio brisado, amanhecera na esbornia, e como sempre com seus problemas existenciais.


O grand Jean apareceu e saiu na captura de uns trocados para entornamos umas latas para nossa pobre confraternização natalina.
.


Cinco dias para o fim de 2018

A cadela Pandora apaixonada. Um jovem mancebo canino flertava animadamente com ela. Como um bom casal apaixonado rolavam no asfalto orvalhado e gritinhos em slow-motion. O amor é lindo.
- Hoje o sol apareceu mais cedo - comentou o parrudo Delegado todo entonado de camisa preta de manga comprida, uma vistosa calça jeans, a bota reluzente e a mochila nas costas.
- É sinal de chuva mais tarde - arrematou Seu Obina que levantou-se para atender uma chamada no seu smartphone no meio da calçada.
Ontem, Jean Gaspar voltou em companhia de Samuca, o nosso amado Samuca, o pedreiro com duas geladas latas de kaisão, que mamamos rapidamente e depois subimos para a Praça Sete Palmeiras onde encontramos a pequena notável Jade, uma velha conhecida do Desterro. Descemos para o Varandão Penha no meio da ladeira onde chupamos umas latas. Meu amado filhote passou a caminho do almoço natalino na Pensão da Sra. Vince, pediu-me várias vezes a benção:
- Bença meu querido papá! E beijava efusivamente a minha mão. Ferrei-lhe sutilmente dois reais que deu-me com muito gosto; - Bença meu querido papá!
No meio da tarde a festa acabou e cada um seguiu seu rumo, inescrupulosamente tentei achacar cinco reais da patroa. Disse não. Fiquei aturdido com essa minha ação imperdoável. Deu-me uma vergonha tão grande que dobrei o canto antes da hora. Essa minha mania.

Espirro um atrás de outro, sinal de uma gripe aproximando-se, ainda pouco a garganta irritada, quando abri um velho embolarado livro de fotos sobre a revolução paulista de 1932, desde então um pigarro maldito assola-me impiedosamente.
Mr. Wolf entrou de relance com a língua de fora e o focinho úmido gotejante.
- Nehmen Sie Platz! - ordenei em alemão e ele obediente sentou-se sobre o traseiro e arfou. Acaricie lhe a cabeça.

La noche en la pension Vince

O coral improvisado do salão do reino entoa um hino de louvação a Jeová. terminei dois livros: Marlene "D" e "Os Eleitos". A rua 23 en luto, um fratricídio em Imperatriz com os netos do finado Zé do Mato. Todos consternados. Quem contou-me foi Seu Costa, o barbeiro do lado, de manhã cedo, assim que abriu o salão e antes de varrer a calçada.
Comecei "Fortaleza Digital", o primeiro livro do famoso escritor Don Brown de 1998 - gosto do estilo dele, bem didático e minucioso nos dramas.



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=380834