Entre a água e o verso

Data 15/10/2025 10:26:54 | Tópico: Poemas



Como se desenha o sal
na margem dos teus olhos
se o mar já não reconhece
a geometria do abraço
nem o nome das conchas
que enterrámos no verão?

Há gestos que se perdem
como notas sem pauta
na pele que já não canta
e cartas que o tempo
dobrou [em silêncio]
no fundo da gaveta.

Se abríssemos o peito
à cartografia do esquecimento
e deixássemos

[ainda que com janelas fechadas
as vozes apagadas dos vizinhos
e os retratos sem moldura]

deixássemos
que o poema nos habitasse
como uma sombra leve
no bolso interior da memória

o tempo talvez não nos tocasse
com os dedos da pressa.

Só o mundo lá fora
continuaria a correr.







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