A menina de Poucas Palavras

Data 20/10/2025 16:30:47 | Tópico: Poemas -> Introspecção


Ninguém notava muito a menina de poucas palavras.

Ela passava pelas ruas como um sopro — discreta, sem pressa, com os olhos cheios de silêncio. Mas havia algo ali, algo que quem prestasse atenção perceberia: um tipo de profundidade que não fazia barulho, mas pesava como quem carrega muitos mundos dentro.

No colégio, diziam que ela era tímida. Em casa, que era reservada. Mas nenhuma dessas palavras a definia por completo. A verdade era que ela estava ocupada — não com lições, nem com afazeres comuns. Estava em obras. Por dentro.

a menina de poucas palavras.

Tinha andaimes invisíveis nas costelas, escadas internas onde subia para alcançar sentimentos guardados em prateleiras altas. Todos os dias, acordava e reerguia alguma parte de si. Não porque estivesse quebrada, mas porque sabia que crescer exigia estrutura. E estrutura se faz com tempo, com silêncio, com paciência.

Enquanto os outros corriam atrás de coisas urgentes, ela caminhava devagar, carregando no peito tijolos de lembranças, cimento de sonhos, ferragens de traumas e colunas de esperança. Tudo seria usado. Nada desperdiçado.

Sabia a que veio. Não era sobre fama, aplausos ou ruídos. Era sobre construção sólida, sobre se tornar inteira antes de tentar ser parte de algo maior. Sabia também para onde queria ir — um lugar onde pudesse viver sem precisar se diminuir, onde seu silêncio não fosse visto como ausência, mas como presença densa.

Os processos do caminho, ela aceitava com a maturidade de quem compreendia que toda demolição traz ensinamentos. Aprendeu que alguns sentimentos precisam ruir para dar espaço ao novo. Que há dores que preparam o terreno. Que o vazio também pode ser fértil, se a gente souber o que plantar nele.

E assim ela seguia — quieta, mas nunca parada.

Seus olhos calados continuavam a carregar mundos. E enquanto ninguém notava, ela se tornava uma catedral por dentro.

Uma construção feita com amor, silêncio e intenção.








A menina quieta e reservada se definia pela sua construção interna, uma obra de paciência onde ela usava lembranças, sonhos, traumas e esperança para se tornar inteira. Enquanto os outros buscavam coisas urgentes, ela construía uma estrutura sólida dentro de si, aprendendo com o processo de demolição que trazem os sentimentos. Seu objetivo era alcançar um estado de plenitude onde seu silêncio fosse uma presença densa e não uma ausência. 9 de Outubro de 2025 às 11:33am




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