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Nos loucos caminhos duma estrada longínqua Já vi passar fulano, já vi todo tipo de humano... Bons e maus, seus acertos, dúvidas, seus enganos Da vida em grupo, de regalo à míngua, o afã! De ser lento o cantar de galo no que resta viver Pra inda sorrirem os olhos turvos a cada amanhecer.
Nos loucos caminhos duma estrada longínqua Já vi a sedução do metal brilhante, amarelo, E o amargor da língua de meu semelhante; Amigo que não segui, rejeitei seu castelo E percebi o quanto sou fraco no tempo, na idade Nesta cidade de podridão atroz, dúvida e vaidade.
Nos loucos caminhos duma estrada longínqua Me ferindo e curando, respirando e morrendo Aos poucos me contamino, dou vivas e lastimo O remar empírico, fogoso a favor da corrente De minha gente hipnotizada ao futuro, ao cimo Da morte, Sul e Norte, o lixo, sua vertente.
Nos loucos caminhos duma estrada longínqua Já vi passar o tudo e o nada da real, o resumo Secular da jornada - homem comum que sou assumo Minha fraqueza à espera de cada alvorada Pra tantas novas faces efêmeras espreitar O fim singular sem acepção na tênue estrada.
Nos loucos caminhos duma longínqua estrada Já vi passar o boi, a carroça, o cão sem dono, Um é preso, o outro livre; um trabalha, o outro bandea... Senti-me como o esperto mosquito preso à teia Da comunidade, suas leis falhas, as leis dos fortes E invoquei os animais, menos os homens, suas sortes.
Nos loucos caminhos duma estrada longínqua Busquei a mulher amada em lugares errados, Entendi os amores temporãos a homens abastados Felizes nas mesmices dos períodos, vegetando Jamais criando em resquícios de sentires miserados Tais os meus, presos, soltos à felicidade passando.
Nos loucos caminhos duma estrada longínqua Penso, aguardo tudo acontecer e estou numa cilada, E querer pintar sem tinta faz com que eu me sinta A fruta podre entre tantas que frutas já não são, No pó estão tais marcas , incolores na estrada Eu sou eu mais nada, minha fé, minha revelação.
Nos loucos caminhos duma estrada longínqua Pouco me resta para ver, um pouco quase nada Final de jornada, resto de estrada a padecer, Não cri na voz do além, no exemplo de quem Sempre creu nos sinais do Egito/Jerusalém, e gosta Em direção oposta, de seguir os passos dos que não fito.
(REHGGE, 1978)
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