
Terça-feira, 11
Data 11/11/2025 19:07:57 | Tópico: Textos
| Night Monday,10 - Te aquieta porra! – gritou a Sra. Vince irritada e bastante zangada com seus felinos, um deles derrubou a panela com galinha cozida de cima do fogão no chão. Era o jantar de seu amado genro – Esses gatos são muito atentados. Terça-feira, 11 Tenta imitar os seus nobres mestres que escreviam suas impressões a lápis – Blindowski deu-lhe um caneta policor e tem uma grafite. Na vinda para o atelier, depois de ler o livro espirita na Praça das Sete Palmeiras, Vila Embratel – tomando um banho de sol, de apanhar os pães na padaria Renascer, encostou no velório deserto do mestre Fernandão, o cenografo aposentado do teatro Artur Azevedo – esquife no meio da sala, o corpo coberto por uma malha para evitar as moscas, ladeado pelas cadeiras vazias, o enorme crucifixo a cabeceira, duas grossas velas ardendo e os vaso com as flores artificiais e inodoras. Nenhuma viva alma, nem mesmo as filhas velava-o. Dei as condolências para uma delas. Era o quinto velório que comparecia nesse final de ano que começou pelo menino Black, Gato Guerreiro, Pelado e Bigliote e agora seu Fernando – uma peculiaridade, todos engravatados, camisas mangas compridas, calças sociais e emsapatados. Uma formalidade obtusa que o poeta abominava e não quereria para si, por ele iria nu. Depois de uns minutos em pé na beira do caixão, persignou-se e mais uma vez desejou-lhe boa viagem e uma boa acolhida no seio do Senhor. O ceu encoberto por densas nuvens plúmbeas: - O tempo ta mudando – comentou a Sra. Vince ontem a tarde quando desenrolava o plástico que cobre a grade da janela da sala do computador. Preocupava-se com as inúmeras goteiras que vicejavam no telhado da pensão, principalmente uma que ficava sobre a sua televisão na sala de estar. Uma senhora pede timidamente as três latas secas de Skol que Ambré, filho de seu Ademário bebera no sábado pela manhã, que estavam ao pé da cadeira de plástico. - Sim, pode senhora. Ela entrou meio desconfiada e as pegou e as secou, despejando o resto no chão e o fartum delas empesteou a oficina com aquele odor azedo. Um chuvisco umedece sutilmente o asfalto que emana aquele cheirinho característico de terra molhada de nossas infâncias. Um vento frio empurra as nuvens ameaçadoras para o norte. Antes do meio dia, o poeta estreou um banco improvisado feito especialmente para ele, pelo comandante LaSierra com direito a fotos no You tube. Mamara as suas doses e ao meio-dia, depois de ter furtado um livro de bolso, daquela coleção Julia “Nos braços da felicidade” de Evelyn A. Crowe zarpou para a pensão ainda um pouco sóbrio. Na pensão fez um raspa nas sobras de domingo que ainda jaziam no congelador – torta, coração, fígado, carne de porco. Ontem nem jantou, também nem sentiu fome.
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