
Crônicas de meio século
Data 16/11/2025 12:44:40 | Tópico: Poemas -> Introspecção
| Carrego meio século nas mãos, Não como peso, mas como mapa. Cada linha da palma guarda um rio, Um erro, um rosto, um silêncio. O tempo, esse escultor invisível, Me lapidou em noites de espera E manhãs que nasceram sem promessa. Aprendi que existir é resistir À própria dissolução. Há memórias que brilham como lâminas, Outras que repousam, gastas, No fundo das gavetas do ser. Mas todas me compõem, Como constelações de um céu particular Onde o passado ainda respira. Já não busco o sentido, Ele se esconde nas frestas do cotidiano, No café que esfria, No gesto breve de quem parte. Metade da vida talvez seja apenas isso: Um aprendizado lento Sobre como perder sem desaparecer, Como amar sem possuir, Como permanecer quando tudo muda. E se houver outra metade à frente, Que venha com menos pressa, Mais sombra, mais pausa, Para que eu possa, enfim, Ouvir o murmúrio do que fui Sem medo de deixar de ser. Poema: Odair José, Poeta Cacerense www.odairpoetacacerense.blogspot.com
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