Vem de longe

Data 21/05/2008 08:37:39 | Tópico: Poemas

Vem de longe
de tão longe quanto imaginar se possa
sem negar a origem do primado do tempo
este verbo imperfeito que, sem norma,
sem regra ou pejo, me faz cativa de mim
e do sangue incolor que m'avassala o peito.

Como um barco soluçando sobre as vagas
a fuga dói na ferida onde a carne já apodrece
se a maré sobe
se anoitece
e o porto se faz distante e a luz incerta …

Há um murmúrio que não é de gente
há um rumor que m’enlouquece
à boca do alambique
por onde não s'estancam finas gotas
há um canto magnetizado que m’ancora
em enseadas de pranto
e me faz postergada à face alabastrina
de uma lua residual.

Vem de longe, a agonia das areias
e o sal
e o sol
e as salinas pálidas em vidrados de ossos
que, desunidos d’algum lugar, deram agora à costa
nesta enseada d’utopia.

Vem de longe, esta fome infinita de viver, morrendo,
em caudais de poesia.



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