
Sabado, 27/12/2025
Data 28/12/2025 12:46:55 | Tópico: Textos
| Samedi, 27 Madrugada – os mosquitos e o fedor das ‘cacas’ dos felinos debaixo da estante o expulsaram da rede e de seus humildes aposentos. As costas toda lanhada de coça-la a cada picada. A irrequieta Little Black aninha-se perto da cadela doente Beautiful – o poeta não sabe quem está fedendo mais – se o seu calção ou as duas cadelas. A sra. Vince tosse sutilmente no aconchego de seu quarto. O radio ligado no vizinho para intimidar os possíveis ladrões. A lua em crescente. Os latidos longínquos. Um gato sentado sobre traseiro lambe-se perto do rabo, debaixo da mesa, onde as cadeiras foram retiradas para evitar confusão com a estabanada da Little Black. Entre ela e a convalescente Beautiful, um dos felinos enroscou-se com cabeça sobre as patas traseiras dorme profundamente. Um outro ativo, coça a orelha e olha maliciosamente para cima do novo armário cheio de litros d’aguas da filhota – pois não é que o sacana salta para subi-lo, cheira suspeitosamente os litros e pula de volta ao chão. Ontem depois do almoço -um bom mocotó, carne de porco frita e fria com baião de dois (arroz com feijão-preto), para digeri melhor com uma Glacial que surrupiei, enquanto a sra. Vince estafada cochilava sentada na sua cadeira abacial na exígua sala de visita ouvindo sua tv sem imagem. Uma moto em alta velocidade sobe a ladeira, vindo da nova avenida que costeia os mangues do Piancó até o Sá Viana. Na noite anterior, a de natal – não sai para lugar nenhum, aboletei-me diante do computador e fiquei me segurando até a meia-noite, quando começou a Missa do Galo na Basilica de San Pietro, Vaticano – os foguetes explodiam, pessoas se confraternizavam. Deitei-me uma hora – a sra. Vince continuou assistindo sozinha até o fim, entornando as suas latas. Beautiful toda emplastada e salpicada por violeta para curar umas feridas muda de posição sem abrir os olhos. Na rua os gatos miam desafiando-se, ainda pouco um galo saudou a madrugada solitariamente. O sr. Vince no banheiro urinando e são quase quatro horas da manhã. Lava as mãos na pia antes de sair, fecha a porta e apaga a lâmpada e retorna em linha reta para seu cafofo. O sono começa a pesar nas minhas pálpebras. Levanto-me todo dolorido e vou pegar o meu litrinho no congelador – apanho as minhas tralhas: dois livros o do chinês Mao Tse Tung e o russo Boris Yeltsin e este caderno e entro no nauseabundo quarto – o bodum das merdas dos gatos é grande, para amenizar abro uma banda da janela para arejar um pouco e vou ao banheiro que também fede a mijo. E os mosquitos zunem nos meus ouvidos. Um dente quer me sacanear, querendo doer. Deitado na penumbra ouço a sra. Vince entrando no banheiro, minuto depois a descarga e a saída. Foi no quarto das pixixitinhas, como de seu costume, ajeitar a sua pequena hospede e ‘neta’ a chamou até ser repreendida pela filhota menor: - Deixa ela, mamãe! Manhã Acordou acossado pela imperiosa Sra. Vince que queria faxinar o quarto como faz todas as manhãs. O poeta ainda grogue de sono levantou-se, abriu a janela e um bonito sol entrou por ela, candeando-o por uns instantes. Noite Um banho ao luar no quintal as escuras. Mil miligramas de dipirona correm nas minhas veias e mente – comprei uma cartela como prevenção contra a dor de dente. No final da manhã, antes do almoço comecei a reler “As vinhas da Ira” do mestre de Salinas e Prêmio Nobel de Literatura Jonh Steinbeck, escrito em 1937. O drama da família Joad no auge da depressão americana nos anos 30 do século passado, ganhou o premio Pulitzer de ficção de 1940.
|
|