O quadro

Data 24/05/2008 15:09:18 | Tópico: Crónicas

As costas formavam um arco, onde uma luz esmaecida em tons amarelos deslizava até o inicio do vale insinuante que dividia suas nádegas. Traseiro redondo e firme em sombreado de luz, formava uma virgula manchada em sua pele. O côncavo voltaico da espádua juntava-se ao minúsculo convexo do arco dos pés, montando um lindo pedestal, que sustentava a magnífica e impudica... bunda.
Os braços estendidos a frente num movimento bailarino, ocultavam parte do rosto, emoldurando a curvatura dos seios, um semi encobrindo o rijo, atrevido e excitado bico do outro, que observava curioso a ponta do seu queixo. Cabelos contidos num coque negro desnudavam o esguio pescoço, onde a luz se aninhava nos finos fios formando um raro e inesperado halo de luz.
Sobrancelhas desenhadas sinuosas como as curvas de Niemeyer assombravam olhos imensos aveludados em castanho esverdeado que boiavam no branco dos seus globos. Um nuance de sombra contornava a perfeição do nariz aquilino, clássico, grego. As coxas limitavam o desenho composto em luz e sombras. Entre-coxas lambidas de sol abrigam em seu vórtice, seu sexo parcialmente revelado pelo inicio do púbis depilado que se perdia nas sombras do vão das pernas.
Afastando para ver o conjunto...um fundo negro impreciso, construído pela luz “irídia” vazado do alto de uma clarabóia. Sobre ele sentada de cócoras, sobre um tablado de veludo vermelho, arqueada num movimento lúdico, sinuoso, elegante e harmonioso como o pescoço de um cisne. A mulher... linda simples, nua e sensual se oferece inteira a luz cobiçosa e reveladora do sol, que a aquece... e agradece.
O quadro ... pintado em prosa.
Carlos Said




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