Pela calada ( com Paulo Afonso)

Data 24/05/2008 16:13:23 | Tópico: Duetos

Sentei-me na soleira da porta e comecei a escrever, a noite tardava e o teu olhar não aparecia ao fundo da rua ainda, as lágrimas depressa me caíam pela face, as minhas mãos escorregavam em letras mergulhadas nas gotas de chuva que o céu teimosamente largava e eu não conseguia controlar o redemoinhar de imagens no meu coração.
Esta rua não é minha, as pessoas cruzam-se à minha frente, a madeira da porta onde me encosto range como um cão zangado, desencosto-me e curvo as minhas costas até o peito me bater nos joelhos, os olhos postos nos chão, a imagem distorcida de mim num charco lamacento. Com licença. Os olhos levantaram-se pelo teu corpo, as chaves nas tuas mãos tirintavam umas contra as outras e eu sustive a respiração, não era por ti que esperava ali sentada mas agora sinto que sempre por ti esperei. Levantei-me num repente e o caderno que segurava no colo estatelou-se contra o chão, as minhas palavras tombaram sobre um charco de água doce e salgada, com medo que pudessem afogar depressa as peguei ao colo e chorei quando as vi desaparecer tornando-se grandes manchas. Manchas de solidão. Manchas que ganharam forma e exactidão. De vestes molhadas cresceram na tua mão, fizeram-se melodia que ecoou ao teu ouvido, fizeram-se clareira que os teus olhos desbravaram e, nesse mesmo instante, abriu-se um sorriso, no teu rosto carente. Um vulto, ao fundo, subia a rua em tua direcção. Feito de esperança e embebido nas tuas lágrimas. Corpo meu que procurava o teu.
E as palavras uniram-se em prol da alegria, e os desejos aconteceram em cadências de magia. Tu e Eu… naquela rua onde tudo aconteceu.


escrito por mim e por Paulo Afonso, por quem nutro uma terrível admiração.



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