alísia efígie

Data 29/05/2008 11:47:24 | Tópico: Poemas

não são meus
os muros e os passeios onde deslizam bichos de contas
num faz de conta que existem e já se escondem
nem tão pouco meus os gorgulhos
que se passeiam altivos
na secura dos feijões
nem aqueloutros, os que vivem descalços de nus
em concavidades de conchas
e transportam em esforço casas nas suas costas
- as lesmas e os caracóis.
não,
não são minhas as pragas que assolam as vinhas
nem sequer as suas mais dulcíssimas produções
- uvas carnudas, desprovidas de grainhas.
se nítido é o céu,
se lá vislumbro quiçá asterismos, constelações,
se o mar é vasto
e lhe vejo longínquo o infinito horizonte
se prossigo
o ciclo da vinda das andorinhas
e em ousadia de trato as chamo de “minhas”
se a água assola
e escorre por vales várzeas e azinhagas
e cobre de verde musgo as mais ínfimas pedrinhas
nada, mas mesmo nada, que os meus olhos afluem
e que a minha boca afaga no mutismo da palavra
é, por posse
por crença ou por pertença, meu -
que o não quero, que o não desejo
que o não busco.

minhas apenas são as veias do teu sangue
onde me alongo em cio, em distância e em demora
na efervescência (e)terna e libretos de palavras
e, se na vida terrena
não encontro nada meu e da outra demando apenas
a paz e a luz serena
serás papiro eternizado onde deixarei gravado,
de meu ser, alísia efígie, rastilho incendiário de poemas.




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