A Carta Que Nunca Te Escrevi ou a Simples Confissão do Meu Maior Crime (Parte VI)

Data 02/06/2008 18:22:47 | Tópico: Prosas Poéticas

Conduzo a vida sem pressas, deambulando nesta estrada sempre em linha recta, infindável e sem destino. Páro, de vez em quando, devido aos semáforos carregados de sentimentalismos que escrevo. Ora verde, ora vermelho, ora a andar devagar olhando para todos os lados que possam existir: para dentro, para fora, para ti, para mim...
Matraqueio-me com dúvidas no acerto das vírgulas dos teus melancólicos textos, aqueles que me deixam a pensar sem saber no quê! Barbaridades, sofismas e outras coisas acabadas em "idades" e "ismas", parecem siglas de partidos políticos de que me inteiro nas notícias das oito. Os partidos de que me inteiro... deixa-me dúvidas se estou a falar bem e a escrever mal ou vice-versa. Bem, eu também estou em desacordo com o acordo ortográfico - e com outras coisas que me chateiam.
Olho-te nos olhos todos os dias - todos os dias ligo a internet onde está a tua fotografia (penso que seja a tua) - e digo-te, sem que me ouças, que assim também é giro, que não sei se te amo a ti ou se me amo a mim ou, por outro lado, se gosto dos dois, cada um à sua maneira. Se calhar escrevo demais, mas isso é para compensar o que não digo, sou pouco falador, faço-o para não estar sempre a mentir ou a enganar-me nos tempos verbais que estudei no 7º e 8º ano e dos quais já não me lembro de todos.
Sabes que livro estou a ler agora? "Como água para chocolate" da Laura Esquivel, por incrível que parece estou a gostar e quase a acabá-lo, tem uma história que podia ser a nossa se vivêssemos em tempos conturbados, no meio de rebeldes liderados por Panchos Villas e se tu soubesses cozinhar só para me agradar, para conquistares a minha dúvida sobre nós, amo-te a ti ou a mim? Serei assim tão egoísta que faça de um sentimento uma dúvida ou será que o sentimento é a própria dúvida?
Devia afogar-me no vinho, mas já nem isso aguento, teria de treinar para conseguir emmbebedar-me como deve de ser, com três ou quatro garrafas e não só com uma ou meia, ao que isto chegou! Estou tão miserável que quase me embebedo com o cheiro da água (!!), o dinheiro foge-me da carteira, o trabalho recusa a minha presença e tu... bem, tu és quase como uma boneca insuflável virtual, não te ouço falar, gritar, respirar, não te toco directamente. Dou de vez em quando um beijinho no monitor do pc e passo as minhas mãos em cima da torre do computador - o CPU - a fazer de conta que são as tuas pernas, uma delas pelo menos... o resto imagino, não deve ser muito diferente das outras mulheres, já vi algumas das poucas vezes que saio de casa.
Imagino se um dia lesses estas cartas, o que dirias de mim.
A culpa não é minha, é de alguém, mas não minha...


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