Ode ao amor impossível

Data 02/06/2008 23:21:58 | Tópico: Poemas

Ah queria de ti o templo visitado por versos fiéis! saborear o crime de te amar ininterruptamente! falar das plantas que o Outono não consegue derrubar. Inchar de oiro pelo suor da tua larva. e ser o diplomata nas tuas aventuras por entre os túneis da Grande Cidade.

de ti quero o húmus da tua oração. o teu sonho aristocrata. a tua convalescença. os teus enigmas resolvidos. o teu sonambulismo redentor.

quero a tua geografia sideral. a ruralidade com que sacodes o cabelo. o cuspo que encerras as cartas que nunca enviaste. um decilitro de paixão em taça de vinho. quero ainda os manuais da inquisição para não tropeçarmos na valsa.

que sorte era a minha se o teu Jerónimo fosse a minha prosa sacudida pela raiva. se o teu perfume extraísse-me erecto da terra quente e cínica de desejos.

é um reino a tua hipnótica palavra. também a primavera com flores do pano que tecemos de saliva em saliva erguendo altares de volúpia sobre a bendita carne que nos agasalha.
arqueiro fui. saltei telhados. aticei o gado vadio.
essas horas longas que me escorrem pela cabeça como carnificinas. agora estou no convés do convés. sem elmo nem armadura. mordendo as raízes e os nós da madeira de um silêncio que é de todos propriedade.

sinto. sentes. sentimos. a madrugada efervescente nas pálpebras abertas ao astro da tua. minha. nossa. imaginação.
temos o verso desprendido e as gargantas cheias de absinto a queimar os papeis que outrora fizemos esquecidos. anoitecidos. no colar da primavera.

o comboio parte às 20 h. dá-nos tempo para apostar e lançar ao mar uma caravela de piratas. até lá experimenta-se todos os efeitos da solidão. calca-se os nervos. exausta-se em convexos gritos. e eis as minhas mãos que foram brancas vasculhando as cinzas do passado que ainda vem.

estou perto do que sinto mas longe do que ainda possa sentir. já provei as aves mortas por isso sei que um dia vou voar.
tenho a palavra de Deus lacrada numa cicatriz. no eixo de uma fadiga. por isso não é certo que o voo seja para Norte

nos eléctricos fiz poemas de cortar caminhos. vi-te publicitada nas mãos de um malabarista. e sorrias loira de signos tão certos como sábios em hora de descoberta. ó majestosa gazela de poemas!

ó variada flor de contestação! abre-me o corpo e vê quem sou. purifica-me com algo mais que o gelo já não arde. o campo não semeia. a tempestade sim colabora. e um beijo é apenas jusficação para unir duas margens



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