A Carta Que Nunca Te Escrevi ou a Simples Confissão do Meu Maior Crime (Parte VII)

Data 03/06/2008 21:54:48 | Tópico: Prosas Poéticas

Acolchoei a minha cabeça, ao de leve, com lembrança do teu rosto, aquela que me deixaste quando foste embora, que ficou estampada nos meus olhos. Não sei se faz sentido, mas não me importei quando te vi abalar ou quando nem te despediste de mim. Importo-me agora por sentir que quem não voltou fui eu.
Minei, até hoje, todas as minhas relações amorosas ou a isso idênticas, sobrepunha-as umas sobre as outras como se fossem uma colecção de revistas baratuchas de trazer por casa, dessas que não convém mostrar aos pais e que por convenção ficam debaixo do colchão. Fiz de mim uma espécie de objecto que se deixa auto-usar nas mãos delicadas das mulheres, nos sentimentos delas, assassinando-os.
Confesso que as palavras que te dirijo têm sido apenas enfeites que dou ao nosso sentimento. No entanto sinto-me esquisito, não é normal estar a dizer-te estas coisas, estrago o elemento surpresa que te obriga, a ti e às outras, a renunciar à minha companhia. Porque o faço? Será que és tu?
Baralhas-me, fazes-me perder o sentido das coisas, tornaste-me demasiado sensível e eu gostei, ainda gosto.
Volta, eu perdoo-me.


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