10 de Junho, Viana

Data 10/06/2008 12:29:29 | Tópico: Prosas Poéticas

Há uma solidão de braços e de pernas
meu amor
Roda de feira gigante, palco de vaidades em que balançamos suspensos
apensos
ao equilíbrio imposto pelas leis da gravitação, da gravidade dos corpos e nos encontramos grávidos de espanto (ainda).

Existe um movimento oscilatório, pendular, lupanar (também)
d’artefactos soltos
de relógios antigos em alacridades insanas. Clic-clac(s) de dor e cor. Feéricos clamores acesos num ribeiro manso que corre lento p’ro mar.

Há um registo hidrográfico de caudais de cheias que nos lembram as percas de searas, sementeiras de trigo, de milho e de arroz, quando as Lezírias se alagam com as águas derivadas de todos os montes, quando as barragens a norte abertas, detonam sem contenção, gravilhas e mísseis dalgum navio fundeado com roturas no porão.
De Viana, talvez, em dia de comemoração.

Naval se faz o verbo e o rio é Lima. Lima laranja, d’acidez e paleação. Futilidades várias.
Paliativos os cuidados ambíguos consignados a um povo que, vivo, definha e morre. À luz já difusa e imprecisa dos Direitos consagrados em Constituição.
Esquecida, olvida, adormecida em qualquer lugar
“… a educação, a habitação, a saúde, a dignidade …”

É tempo de ser verdade, pois então!!!!

Subaz
um gosto azedo a tilintar o palato, a encortiçar a língua. A língua de um povo que grita poesia na fúria das suas guelras. Um povo que vibra no sal salgado das suas margens. A pele retinta nas cores dos cinco continentes “todos iguais, todos diferentes”. Pois!!!!

Ah, este mar de rugas e de vielas largas, este mar onde os auto-estradas ainda têm cancelas… e as docas são portos onde navios de guerra se estiolam na insensatez d’amaragem. Sem cautelas, sem aulas de boas práticas, de navegação.

Comemora-se o acto de renascer Nação. Talvez.

Um gramofone ecoa agora semibreves e colcheias
e mais além um termómetro
em que o mercúrio há muito disparou todas as escalas, de um povo que agoniza já em fome. Fome de escola, de pratos cheios com as letras de todos os alfabetos. Fome de afectos. Fome de que nunca estes tenham que ser legislados por Portarias e Decretos. Basta de sermos bestas e de gerarmos ventres de inumanidade.

Nasçam poetas, por favor, com trigo a jorrar pela boca e sangue vivo nas guelras.

Mulheres, não tendes medo, abríeis as pernas pari em amor se amadas fordes em acto de ser amor. Que esta Nação necessita de sangue novo, de crianças a correr e a plantar cravos e rosas em contradição. Que seja então!


Existem falas
meu amor…
Falas que um ponto escondido nos revela. Algo de uma peça de que não sabemos o términus, o início, sequer. E durante a qual, embalados no canto da letargia, temo, adormecemos um dia.
Soltemos agora as palavras: térmitas em guerra nas entranhas da terra.

Existem esotéricas linhas d’horizonte, por onde à solta gravitam isótopos desprendidos de uma qualquer infusão. Ou talvez não ...



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=40412