 
  
    	UMA VEZ UM FATO
    	Data 10/06/2008 18:01:59 | Tópico: Contos
 
  |  A viatura canta pneus na esquina. Os dois 
  polícias descem com armas na mão.
  - Positivo - diz um ao outro.
  O outro puxa um cigarro com fumo esverdeado. Dá 
  um gole na lata de cerveja.
  -Isso aí chefia, ainda por cima pretos.
  O mais novo dos dois moleques ajoelha e pede 
  clemência. Recebe uma bordoada na cara. Baixa 
  a cabeça. Exclama:
  - Por Deus, senhor! Faz isso não!
  Um dos policiais arrota um pouco da cerveja que 
  acabou de beber. O outro ri, tem uma corrente de 
  ouro com uma cruz no pescoço. O Cristo nela ignora
  a outra bofetada.
  O segundo menino implora:
  - Faz isso não, senhor!
  O segundo policial, agarrando o outro moleque, 
  exige:
  - Dá o dinheiro...Filho da puta...Negro nojento...
  O moleque, com lágrimas nos olhos, enfia a mão 
  num dos bolsos da calça rasgada. Retira o dinheiro
  do roubo feito na esquina.
  - Só isso?! - diz o polícia, conferindo as 
  cédulas. Tem que morrer.Negro tem que morrer no 
  pau.
  Os dois pedem clemência.
  Disparos de armas de fogo acordam a madrugada.
  - Filhos da puta - diz um policial.
  Entram na viatura e partem. O que arrotou e bebeu 
  cerveja sorri.
  Duas poças de sangue tingem a madrugada. ______________________
  júlio, Estes Malditos Escritores
 
 
 
 
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