"Pincéis"

Data 11/06/2008 11:26:26 | Tópico: Prosas Poéticas

Para onde se dirigem os braços? Agora…
Cor festiva enfeita as paredes, morrem palavras à nascença, sou ser supremo de magia, cortina de fogo espreita, minha ilha solitária, meu espaço destinado, minha sina.
Pincelada no vazio do ar, a boca do silêncio saboreia, comovem-me as cores cinzeladas da escultura do meu dia.
Construímos com forças sobrenaturais, com alma, me disseram! Alma de artista me venderam, não escolhi, mergulhei no pólo silencioso dos meus mundos, abstraído, simplifiquei o vazio que não preenchi.
A palma das mãos guarda segredos, verdades de mim, os olhos entretêm o sorriso da personagem, vestida de paisagem, que nas mãos vazias guardei.
Sou quase um anjo sem asas, iluminado de todo, criança com olhos de Deus, a viver o relógio passageiro, emoldurado em tempo fantasiado.
Para onde se dirigem os braços? Agora…
O vazio cru da quadrícula por vestir, atiro-lhe palavras inventadas, grito! Imagem surreal implantada nas mãos estagnadas do ser artista.
Uma alma mais forte apodera-se de mim enquanto rasgo os cortinados iluminados desta minha certa morada.
Fartei-me de sentir dor, falésia, corri o mundo no silêncio dos meus sonhos na ilusão mais prematura dos meus sonos.
Semeei prados de palavras, fui infame, fui ser terreno pecando, fui…
Condenei as estrelas, violei os cometas, saio desistindo, de ser verdade, as mãos salpicam o ar desnutrido com melodias de palavras.
Mais uma pequena pincelada…
Sou ser, incumbido de tantas tarefas, lugar melhor este mundo para alma que sofre e chora devorando as palavras de um poema.
Aqui estou…
Obrigado… Obrigado por te vestires em mim, aparafusares as peças soltas dos meus silêncios, construíres moldura onde me encerro, pela voz tão suprema que me dás, me poder exaltar e pronunciar.
Obrigado… Obrigado por arrecadares a dor, tingires o prazer com o luto da dor que assaltou um tempo, onde estive, tão… Magoado.
Sou quase uma esfera quadrada, desenho, traço sem arestas, construindo, desbravando terrenos de sol que as chuvas bebem.
Sinto… Uma espécie de dor, as mãos entravadas, os olhos mergulhados em lágrimas, eu, aos tiros, assassinando as palavras.
As palavras que pincelei na tela vazia onde me cerquei, emoldurei sentimentos, resgatei sonhos de outro tempo, observei, tinha tanto! Tanto de mim…
Para onde se dirigem os braços? Agora…

Que quadro? Que pintura?...

Paulo Themudo


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