PRATO DO DIA

Data 12/06/2008 01:52:57 | Tópico: Textos

Eu pensei não mais falar sobre a exploração da continuidade à qual dou atenção pueril, num interesse inédito e produtivo; mas eu presencio o mundo todos os dias e constato que me arrependerei de mim logo que as montanhas de Minas perecerem. Deixo-me, assim, à vontade para escrever, como que tentando resistir incólume à trajetória indefinida da auto-avaliação, porque, sendo eu flor que se cheire, não tenho forma que se exponha. Hoje eu me dei com as horas inimigas, consegui simpatia para oferecer-lhes um café, e até sorri me lembrando de um curso que fiz há anos, onde aprendi a meiga arte da auto-anulação social (no certificado veio impresso um dizer elegante, relativo à etiqueta) e fiz para o infortúnio, biscoitos. Há certos acontecimentos átonos muito necessários, mas cuja percepção nos é vedada porque pertencem a outras esferas, às do conhecimento inconsciente que jamais aflora, mas que se mostra estranhamente acessível, daí o medo de tocar. Vocês sabem do que falo: é quando os olhares de toda a gente estranha comem-nos inteiros, bocado por bocado, como a um milho, que só importa debulhado. E justo quando nos queremos reconhecidos por alguma pouca coisa inteira, algo como sermos o que somos diante do outro. Quem vê e ouve “O teatro mágico” sabe que o eu e o você são como o feijão e o arroz, sabe que um chora café e o outro chora leite. E os meninos de “O teatro...” inda dizem: sintaxe à vontade! Brincadeira! Quisera eu limitar minhas pretensões à simples função prevista, que consiste basicamente em ser delicada e existir (as gueixas me fascinam!) abusando do tempero oportuno que é a dizimação completa e irrevogável dos pudores, que para mais não servem senão para ao pecado incitar. O simples é que posso eleger-me como a única que pode expor-me com a maior das justiças. E com biscoitos de queijo. Eu só me permito bajular-me a quatro mãos. E à noite.




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