A intensa solidão

Data 13/06/2008 13:10:41 | Tópico: Crónicas

Na intensa solidão que se espraia nestas ruas infinitas, descanso as mãos nas folhas brancas e entrego-me nas letras negras, elegantes, absolutas. Lembro-me de ti, das sensações tomadas por verdade, em cada cheiro, em cada memória, nas ternas imagens que persigo dos teus gestos quentes, do nosso passado projectado em dias vivos onde esperávamos a noite para estendermos nossos corpos e nos enlaçarmos, como esculturas perfeitas de um molde único.
Sou o poeta dos pequenos momentos, dando-lhes a cor das grandezas, das mulheres que são princesas quando ousam deixar-se fitar, e dizem com os olhos, que estão guardadas para quem as ame e as queira como mulheres.
Na imensidão dos segundos em que sossego e me repito de desejos, olho as janelas que me devolvem o negro da noite, e confio-lhes a acalmia estranha de quem convive com os dias que já chegaram e me deixaram mais velho. Não pertenço a nenhuma geração, nem sou da história, apenas invento a minha própria, inundada do que tenho e do que não me pertenço. As histórias passam atrás de nós, e pela frente, como sombras dançando com a luz, indo e regressando, como a dor e a alegria, o calor e o frio, tu e tu e mais tu.
Nem preciso que me abraces, apenas que digas que tens vontade de o fazer. Rodas diante de mim, a tua saia de roda baila, escondendo e revelando as tuas coxas esculpidas, apertando os teus seios nessa tua blusa que faz imaginar histórias ainda mais belas. Ás vezes apenas no prazer de contemplar. Ás vezes num poema que vai mais longe que as mãos e os olhos semi cerrados.
Ao fim, despeço-me das letras, sabendo que vou voltar a elas e enche-las de tudo o que passa à frente dos meus pensamentos, dos meus dias possuídos neste corpo que me traz por aqui, e donde saio para poder voar e ver-te, em todos os lados onde tu ficas, imensamente, esperando por mim…



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