Pleonasmo

Data 17/06/2008 20:47:26 | Tópico: Poemas

Redundâncias
verbos sempre moídos
substantivos abstractos d’horas inquietas.

(co)agito,
agito-me e vomito golfadas de sangue d'astros
p’los poros fechados dos dedos
ao mesmo tempo que esgoto a testa pálida,
que limpo do suor, em punhos hirtos.

Pleonasmo
nos espelhos d'águas translúcidas
e lagos logo gelados.
[aqui e além, oiço a desoras, o relógio de cuco.
soluça na voz dum fado…]

Miragens auspiciosas
de metáforas invictas e logo as memórias
desfocadas dos tempos
em que os verbos se conjugavam sempre no infinito.

Pleonasmo eu própria
em passos retardados na areia húmida
e oiço-as claras, as mulheres da praia norte,
em eufemismos monocórdicos transmutadas de gaivotas…

Cerro os olhos de tão abertos
recorto os dedos numa lâmina de sílex
e vêm-me à memória os versos

“são loucas … são loucas”

quando, num gesto inconfesso, nesta distância,
cirzo contigo a saliva de nossas bocas.

Avanço
entranço lonjuras redundantes.
macrologias ilógicas. analógicas trigonometrias.

...

O pleonasmo confesso
cose agora as redes dos pescadores da lota antiga,
esvaziadas de tão rotas…

... pleonasmo-me perpétua, sigo!



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