
Lupárias
Data 22/06/2008 10:12:52 | Tópico: Poemas
| O ovo inicial era Lupária, a terra das lobas, na selvagem ternura com fanais rotos e o monte bravio das aguadeiras que chegavam desde o vale do Pico Sacro com cheiro a manancial. Lupária, a terra das saudades antigas, receptora espermática do logos, a terra dos relevos torna sol, a geografia da estirpe longa, da nossa estirpe de adúlteras, de mulheres livres, da nossa estirpe que sempre gorentou as cerejas primeiras, da nossa estirpe que paria varões e desejava filhas por simples afã de viver; da nossa raça de esperantes vivas; a nossa raça de heranças femíneas e olhos verdes com poder de seiva, de olhos bravios com brilho de faca doce; nós as filhas da forneira, a cozer o pão de milho nas manhãs de inverno, a sobreviver sem fome nos lábios feitos carne e verso velho; as raparigas das neveiras em Meixãofrio a sentir arder o lume nas entranhas dos dedos gelados; as filhas místicas dos desejos, a santa, Teresa, a santa; as longas sombras de Ramona, a que voltou sem homem e com filhos, a linha de luz de Cármen, a dos santos, os beijos de Antónia, generosos de carne, o longo percurso de Dolores. Nós, as parideiras, as mães de mundo longo, as filhas para o mundo, as galaicas, as descendentes da rainha, da grande Lupa, a decifradora dos sonhos, a senhora dos astros.
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