A ÁRVORE DE TODOS OS AMANTES
Data 22/06/2008 13:00:30 | Tópico: Prosas Poéticas
| A ÁRVORE DOS AMANTES
Encontraram-se na raiz de todo o rubro querer. Ela estendeu as mãos e soltou as palavras, num voo em ascendente espiral: ‘Hoje, meu amor, poderia falar do teu rio que em mim desagua, quando é do teu corpo dentro de meu que falamos. Ou poderia falar do nosso desejo disfarçado de mar. Agitado e gemido, colorido de céu, ébrio de maresias, com odor a infinito e sabor a nós. Poderia falar do teu orvalho, doce e salgado, nas minhas coxas. E dos teus olhos canela-tentação, quando estás em mim e queres ficar mais e mais. E ainda mais. Hoje, amor, poderia adornar-te com palavras mansas, sussurradas junto à nuca, e fazer-te nascer, uma e outra vez, no meu ventre... maré cheia e quente. Ou dançar sobre o teu peito sublimado, de sussurros tatuado, onde me ancoro. Poderia, amor, desenhar em ti gestos pausados e meigos, gemidos sentidos e até o eco da palavra AMOR. Poderia traçar suaves asas sobre o teu corpo, onde me inspiro e cavalgo. Onde me espraio no grito. Onde sou tão mulher. Mas hoje, meu amor, não quero apenas amar-te ou desejar-te. Nem sequer apenas aninhar-me em ti. Hoje quero morrer como se morre no último acto de uma peça única. E renascer, em seguida, com um outro nome que seja a tua imagem. Vem, e leva-me, com o teu jeito ternura, à raiz da árvore de todos os amantes’.
E ela, nua, acendeu velas azuis e espalhou orquídeas por memórias secretas das suas luzes, que suaram e resvalaram, ofegaram e gemeram, se tocaram e se repeliram, se expandiram e se contraíram, se crisparam e se esvaíram. E ela sorriu-lhe, trémula como uma flor acabada de colher. E ele sorriu-lhe também. Como só ele sabe...
Ni*...INnana
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