Quando abismos azuis encontram-se

Data 22/06/2008 15:23:55 | Tópico: Prosas Poéticas

- Procuro-te nos meus abismos?


Não me lembro de reconhecer o bar onde o encontrei, sei que estava cheio e tocava jazz, Creio!
Era um trio de: clarinete; sax; e contrabaixo.
Ele estava de pé, encostado a uma das colunas, vestia de negro e tinha o cabelo molhado. Lembro de ter apreciado o brilho dos seus olhos:" Que deus do Olimpo!".
Aproximei-me e murmurei ao seu ouvido:"desculpa!", pelo atraso de quase uma hora.
Bebia uma cerveja que quis partilhar, senti a espuma fresca a queimar meus lábios e de ele os limpar com o dedo indicador direito, para de seguida, lentamente o passar na sua boca.
Sorriu-me provocador.
Virei-me, para melhor apreciar a performance da banda que actuava, apoiando-me no seu corpo que se movia, ao ritmo da música.
Senti a volúpia do seu baixo-ventre nas minhas costas e ficamos os dois a balançar a um ritmo só (nosso).
Recordo que debruçou-se sobre mim e olharmo-nos directamente nos olhos, com um sorriso malicioso, intensamente intencional.
O movimento dos nossos corpos colados, ao ritmo do swing, fez aumentar o desejo que tínhamos de nós e a sua mão deslizar suave pelo meu vestido de organza até ao meu ventre, arrepiando os poros da alma.
Tínhamos que sair dali, urgentemente...

...Acordei naquela manhã solarenga particularmente bem disposta. O sol ia alto e rompia pelo quarto adentro com uma cadência incisiva. Duas farripas de luz penetravam os acostumados buracos da persiana, escorriam até ao chão, por entre os suores nocturnos que ainda pairavam no ar. Antevi um dia branco e pleno.
Levantei-me de imediato, aturdida por tanto encanto, olhei em volta o quarto iluminado como um santuário envolto num halo divino e supremo, caminhei até à casa de banho contígua ao quarto.
Sem que saber porquê, senti viagens, feitas de sensações à flor da pele, de gemidos surdos dos seus passos, desbravando recantos da geometria, geografia única jamais partilhados.
Rodei a torneira do chuveiro, não esperei pela água morna, com as mãos em forma de concha, molhei o rosto. Vi meu rosto reflectido na superfície líquida e mergulhei nos mesmos abismos azuis profundo.



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