humana, imensamente humana

Data 25/06/2008 09:53:48 | Tópico: Poemas -> Amor

humana
imensamente, intensamente, humana
minh’alma
clama a ternura do enlace à tua
nua
numa nudez desabrochada ao negrume da noite longa.

num relógio de cuco os segundos são passados
a horas
e estas
a dias
e os dias
a Eras
de desejos, de delongas e esperas

incontroladas

as badaladas, melodias (de)líricas profanas,
ecoam numa casca d’árvore sagrada,
a cada toque,
a cada melopeia,
dum tempo urgente
e de uma vida que se adivinha
em contagem decrescente
(se a morte é eminente desde o dia em que nasci)

hoje,
quando o sol adormecer nos ramos da oliveira
quando o gado pestanejar no sono mais profundo
e a via láctea
cobiçar o leito frio do rio, do nosso rio,
abriremos uma garrafa de vinho,
aquele que repousou a vida inteira no mais recôndito
espaço de uma garrafeira secreta,
aquele que escondemos do mundo por paliçadas
de névoas e neblinas,
sinistras teias d’aranha…

hoje, meu querido,
hoje, no agora de um tempo que o tempo não comporta,
tomaremos um banho de espuma
- d’essências, de pétalas de cerejeira e damasco -,
ungir-me-ás os pés moídos com óleos d’oliva
e gérmen de trigo, produto biológico desta Lezíria,
ler-me-ás ao ouvido pausadamente
um poema de Pessoa
e, lado a lado coadas, as nossas almas,
olharão o redondo da Lua
e os sentidos, esses captarão, um a um,
os cheiros supremos desta Lisboa.

… depois,
depois, os nossos corpos moldados falarão
em silêncios raros e, pouco nos importa o para além da porta…

humanos, imensamente humanos, seremos!




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