falso poeta falso

Data 25/06/2008 18:08:00 | Tópico: Poemas

Transmito o egoísmo doutro,
transcrevo-o e o narro,
esse outro que me imita e plagia.
Encontro
nesse facis o verbo e a sombra,
com os quais me escondo do Sol,
embora ele sempre me encontre.
Dou recado à sua presença,
na esperança de mais um fonema
e dou por mim a falar sozinho.
Copio-me.

Tenho de parir mais um verso
e, em cada contracção,
respiro devagarinho e sopro velas
que se apagam, que se queimam.
No momento da expulsão
o sangrento verso não chora,
somente expele mecónio.
Cada palavra arrancada a ferros
sai deformada.
A hipóxia fez-me perder o dia,
fecho as pernas.

O plástico das minhas mãos,
prótese alfabética,
retorce-se na fruta que não consigo trincar,
as flores que não têm cheiro,
nos manequins nas lojas que não riem;
e nos poemas que escrevo
com a mesma marca falsa
que sinto ao não sentir
e invento
hipócrita e baixinho.

Poeta?


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