Road Movie
Data 26/06/2008 08:47:52 | Tópico: Prosas Poéticas
| Conduz há horas. Ao lado,no lugar do morto,ela sente nas pálpebras a poeira dos quilómetros percorridos. Do rádio roufenho ouve-se Tom Waits mal sintonizado em Ali Farka Touré. Jazz mutante de letra lisérgica,Desert Blues e LSD.O suor ferve o silêncio em lume brando. O aumento de temperatura aumenta a dificuldade da sintaxe que estala na pele. No retrovisor,um símbolo de fé pendurada.No banco de trás diários e mapas e polaroids e garrafas de Jack bebidas até metade, Bukowski ,Kerouac e uivos dos demais Dharma Bums. Um revólver porventura carregado:Magnum 44. Conduz há dias. Pose cool quase Tarantino. Meio Hunter S. Thompson meio serial-killer. Ao lado,no lugar do morto,ela tenta manter-se acordada."Onde estamos? Paris? Texas?". Ele já dorme."O lugar pouco importa." A paisagem do deserto é estéril face a quem a morre e há também a sede. O carro pára.Saem dois espectros solares e um revólver porventura carregado.Ele acaba de beber a metade que faltava da garrafa de Jack: acende um Lucky. Onde estamos?-Pergunta dele. Pouco importa.-Resposta dela. No alto o silêncio voa em círculos. (O final não será o cliché gore digno de um spaghetti western gótico.)
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