A Carta Que Nunca Te Escrevi ou a Simples Confissão do Meu Maior Crime (Parte X)

Data 28/06/2008 09:59:25 | Tópico: Prosas Poéticas

Sustenho, por alguns segundos, a respiração, a necessidade de escrever estas palavras e de as viver. Não espero que faças o mesmo, pois sei que não aguentas tanto como eu, a vontade de escrever quero eu dizer, porque a respiração já não ta sinto há muito tempo, tempo demais.
Faço-o para saber como é estar tão afastado das palavras e do seu significado. De noite, às escondidas, vou buscar umas ao dicionário só para poder sonhar com alguma coisa, mesmo que não tenha sentido, assim como não tem sentido a nossa relação - não se relaciona com nada, ou por outra, relaciona-se apenas com o nada (lembras-te dos "nadas" que te falei) - ou até mesmo o sonho que alimentamos de tudo não ter passado de um sonho!
As palavras hoje soam-me a azedo, não o seu paladar, mas a forma com que teimo ouvi-las, saboreio-as de forma diferente e vou pondo de lado aquelas que me lembro terem sido ditas por ti, guardo algumas em caixas de verga - sempre entra uma pequena aragem -, jogo fora as repetidas e desconto as que sei serem minhas, essas, tal como uma pedra, vou esculpindo aos poucos até que sejam as mais belas do mundo, depois dispo-as do exagero que trazem, pulo-as e quando estiveram a brilhar, bem espelhadas, ofereço-as a quem as merece. Não as ofereço a ti porque sei que pouco duram e que depressa perdem o brilho.
É este o problema de pessoas como eu, como tu, como todas as minhas amantes de palavra. Todos nós nascemos letra e todos nós morreremos texto. Eu só queria ser a tua pontuação.


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