Esta manhã...

Data 01/03/2007 11:50:00 | Tópico: Acrósticos

Acordei em sobressalto de horas que fugiam como ladrões,
Desfiz a barba, como quem raspa uma parede áspera, em lâmina gasta,
Num duche de salpicos pelo corpo saltei para o uniforme de rotina,
E o pequeno-almoço frio de flocos engolidos em segundos,

Em passos de gigante me dirigi á paragem do autocarro,
Que fugia de atrasos como o meu,
Sem passe, sem memória de fim do mês, sem me lembrar dos porquês,
Apenas sono, aos molhos enquanto esfregava os olhos para despertar,

A tontura e loucura das filas na estação
Onde apenas uma pessoa atende uma multidão, um mar de gente,
Em reclamações e sopros de impaciência, a demência,
As horas escorregavam então por entre as mãos, lubrificadas,
Impossíveis de agarrar,

A água suja de cafeína como choques eléctricos para reanimar,
Mas sem salvação,
E apenas com o Tejo, na ondulação, me deixava levar.
O trabalho, esse sim, esperava-me como uma esposa desesperada,
Com rolo de massa pronto para marido de altas horas,

O tráfego lisboeta funcionava como amigos que pedem companhia,
“Mais um copo que ainda é cedo…”,
E novamente a loucura, essa sim, sempre presente,
Em qualquer transporte que se diga público,

Entre odores, cheiros matinais e disposições várias,
A jornada chegava agora a outra etapa,
Era agora aprisionado pelas horas que já não fugiam,
E teimavam em passar.



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