Escuto-te, Chuva!

Data 04/03/2007 10:03:18 | Tópico: Poemas -> Sombrios

Tão densa, tão profunda,
cavada no ventre e na água de um vento
que de medo
se rarefacta e te torna rarefeita …
Escuto-te chuva …
urgente no trinar, aguda…
Oiço-te
no atropelo cinza da noite, profunda.
És aqui, és presente … a rir, a esgar,
És ali … estridente … a uivar!
Tão divergente, tão escorrente …
És rio, algemado à sua própria corrente.
És som, tu própria e tão diferente,
Ora amena, quase muda e
logo, logo, oblíqua, convexa, bicuda …
Chuva …
És no som dilacerado e no pranto,
Alma divina vagueando,
ao vento …
- tão inocente -, lágrima, suor de gente!
Escuto-te chuva…
Precária, Veloz …
Murmúrio d'água ... dilúvio,
Pêndulo irregular,
que na loucura, me acusa.
És, tal como eu … vítima e algoz.
És rio
que se apressa em chegar à Foz!
E de novo ao Mar, e de novo se evaporar…
Subir …
Fugir p’lo ar …. Para em gotas
de eterna chuva aqui voltar!

Chuva!
Escuto-te, Chuva!
***



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