
Era uma Rocha, era um penedo ...
Data 04/03/2007 10:38:23 | Tópico: Poemas -> Amor
| Era uma rocha, batida, desmaiada, quase rasa de boleada (tão aperfeiçoada), descoberta, encontrada no recuar da água, na maré vasa … ali n’areia, no quarto medrante. Ali, a jusante!
Era um penedo, com cara de bicho, a gotejar, a escorrer … a pingar, era uma fraga, ou um antigo rosto a chorar na dor? A chorar de Amor?..
Ouvi o seu grito, o chamar aflito… E sobre a areia, me ajoelhei. Da areia molhada a arranquei.
Olhei-a de frente, de soslaio, de lado… Tomei-a na mão, junto ao coração e, juro que vi … que contra a minha mão, no centro da pedra … batiam em pulsação, de frenético cansaço, quase exaustão, Veias urgentes em excitação …
Num gesto sereno afaguei a pedra, que sem reserva, mudou de cor…
Não sei se foi Sol, se emoção, mas sei que o rosto-pedra ruboresceu. Aninhada na palma, secreta Alma, de Vida se encheu … contra a minha pele, com todo o sentido, um olhar antigo, se aquietou… Reconhecido … (Pedra do Mar… amante, amigo…).
Era uma pedra, pujante de Vida … Eu a sereia, a musa e a Diva…
Contra o meu corpo a aprisionei, a cingi e, vos juro que ternamente senti … Que o Mar mandara um sinal só para mim… Era uma pedra e chorava! Molhada…
Era uma rocha, nua na Alma era duma fraga, pedra arredondada, Tinha dois olhos … que sem receios, sem pavores, me olharam de frente, numa teia de quentes, loucos amores …
Dois olhos fundos … de outros Mundos, me lançaram faíscas, beijando os meus…
E os meus choraram … olhando os da rocha, E dos meus soltaram-se mil gotas salgadas … E as gotas tombaram no centro das gotas… E, juntas, juntas ... unidas... caminharam! Caminham ainda ...
Era agora um rochedo rolado, amansado, sereno, … aquele rochedo, me olhava sem medo, num agrado, num meigo afago - Divino presente… Sim, vos juro, senti - vos digo e não minto -, que aquela pedra tinha Alma e coração de gente…
Era uma rocha, oprimida, perseguida ... cansada, rolada, volvida, arrancada, pelos efeitos das águas, de vagas, marés… Vinda de dentro, do epicentro, do ventre do Mar … tombar a meus pés. *** Surpreendi o silêncio, na fala calada, tombei sobre a areia, na areia molhada, no enlevo d’Alma, ali … estiraçada … Amei o rochedo e fui amada…
Era uma simples rocha com olhar de bicho. Era uma Alma … teceu-se um feitiço!
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