Sobre a penúltima carta

Data 11/07/2008 16:17:46 | Tópico: Textos

Envio a carta nunca antes escrita, dizendo das flores que não mais vejo, de onde emergem tênues lembranças que aspiro em nome da saudade, única primavera dos meus olhos. Imagino que ele sente as cores da separação, mas que silencia essa quase dor; que toca o papel com que o amo, mas que seus dedos não revelam o sumo da importância que eu não tenho. Tão exaustas as sensações, calejadas pelos momentos pesados que carregaram, sem ilusão de alento e ele é quem sente sono. De todas as solidões a solidão das palavras é a que mais dói, sofrem à margem do seu conteúdo disforme e não têm olhos que lhes possam falar de futuro. Agonizam numa carta dramática como um penúltimo trago, amargo, que ele nunca quis provar; num envelope escuro, sem endereço, que meus lábios, tão áridos, mal podem selar.


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