24ª foto – Frustração, um instantâneo da vida de um miúdo pequeno

Data 13/07/2008 11:15:06 | Tópico: Textos

A ânsia de crescer era tanta que o miúdo se andava a pendurar nas portas. Trepava para cima de um banco, agarrava-se ao topo da porta e deixava-se lá ficar até lhe doerem os dedos e os pulsos.
Era um gaitola pequeno, o mais pequeno da escola. Na maior parte das vezes era uma espécie de mascote e ele não gostava de o ser... não gostava mesmo! Por estranho que parecesse, não queria favores nem protecção só por ser mais pequeno que os outros.
Um dia, num assomo de provocação, atirou uma biqueirada rija a um matulão. Fê-lo só porque sim. O outro, que era mais velho e muito maior, ao sentir aquela dor aguda na coxa, mesmo por baixo da nádega, soltou um grito bem estridente e, de olhar envinagrado, voltou-se à procura do agressor que apesar da desfassatez, ficou receoso. Ao deparar-se com o minorca que estava de dentes cerrados e olhos fechados, como que aguardando por um murro mais do que justo, ficou incrédulo. O grandalhão, reparando no piolho e, depois da surpresa, riu-se a bandeiras despregadas. Esqueceu-se que lhe doía a perna e o orgulho e gargalhou. Riu-se porque o miúdo nem tinha conseguido chegar-lhe ao rabo. Riu-se porque ao pequeno tudo era tolerado. Riu-se porque, no fundo, o pigmeu não podia mais do que aquilo.
Que frustração! O gaiatito ficou furibundo, possesso e pior... sentiu-se impotente e pequeno, do tamanho que tinha e não queria ter. Um murro nunca teria doído assim.
Ai um dia, um dia! Ai um dia...

Valdevinoxis




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