Gota a Gota no Fio da Navalha

Data 29/04/2006 12:44:33 | Tópico: Prosas Poéticas


Sentia-me no fio da navalha, literalmente.
Estava preso no chão e em cima de mim, uma navalha pendular sustida por uma tina de água com um pequeno furo. A minha condenação à morte: gota a gota. A minha acusação:ser revolucionário. Vim parar a esta prisão à uns três dias, a navalha estava agora a uns escassos trinta centímetros de mim. Fui preso pela minha imprudência, estava a uns escassos momentos da morte e continuava a rir. O meu trabalho estava feito, era indiferente a minha morte ou a minha vida.
Sentia medo, é verdade, a navalha resplandescente sustia-se instàvel sobre mim. A qualquer momento algo ou alguém podia fazê-la desabar e era o fim. num rasgo de vento seria cortado ao meio como o mercador de carne corta galinhas, vacas e porcos. O sangue fervia-me nas veias mas ria, ria como um louco que acreditava na vida depois da morte. Como se obtesse alguma vez a redenção divina! Pelo menos depois dos actos que cometi. Tinha como companhia os ratos. Bichinhos incansáveis que incessantemente roiam as cordas que me prendiam. Faziam-me cócegas quando se aproximavam da minha pele ensanguentada pelas chicoteadas, talvez fosse por isso que ria tanto.
Nasceu o dia. O calor ofuscante da luz que emanava da minúscula janela do meu cárcere incidia furioso sobre a tina de água que lentamente se deixava evaporar. As horas foram passando: gota a gota. Ao cair da noite ouviu-se um raspar violento de metal na pedra. Nem um grito, nem um único grito.<br />(Edgar Allen Poe a Mais! LOL )


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