O Medo

Data 16/07/2008 09:30:07 | Tópico: Acrósticos

Não é da noite que tenho medo
mesmo cega,
mesmo muda,
mesmo que a geada tolha e quebre
o calor com que espero
o sol regresse.
Nem tenho medo do vento
mesmo quando aparece
desabrido
imprevisto
assolando o meu peito – violento,
rude e mortal.
Não temo os punhos fechados
abatendo-se na minha cabeça
rasgando-me os lábios
quebrando os ossos.
Não é das cidades fechadas
que me escondo,
das árvores moribundas
das ruas cobertas
de gente submissa, imprópria,
nem dos rostos tapados
que queimam os olhos mais claros
os que olham mais longe
e sabem chorar.
Do que tenho medo
e me apavora,
é de mim
quando te perco na bruma
densa
das palavras desentregues,
e não te acho
quando dou por mim acordado
a caminho de lugares
onde não chegas.
Do que tenho medo
é dos braços caídos
que te deixam ir embora
quando te agarram e levam
e tu vais, sem que eu diga não,
sem brigar com o medo.
Do que tenho medo
é apenas, de
não ter medo,
de te perder.



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