DÉDALO DE DÉDALO

Data 17/07/2008 21:50:44 | Tópico: Poemas

1.

a obra
nasce

quando a criança
surge

entre os escombros
do caos

2.

silhueta
na distância

o olhar
a indaga
e mesura

enquanto a luz
a coroa
de sombra

3.

sobre
a terra

o respirar
do gesto

4.

acorda
o cântico
da semente

na coroação
do gesto

5.

minotauro
acorda
no medo
dos homens

e adormece
rente ao regaço
dos seus sonhos

6.

talham-se
as pedras

alinham-se
para a construção
do dédalo

como flores
silvestres

que a primavera
eclodiu

7.

eis o caos

a ordem
do caos

sob as mãos
de dédalo

8.

o evérgeta
vigia

os dorsos
curvados

sob o peso
da mandrágora
do destino

9.

erguem-se
muros

trilhos
entre pedras

como se
se erigisse

o tegumento
de érebo

10.

as mãos
rendem-se

ao riso
das máscaras

11.

em creta
decreta-se
o poente

qual clausura

ao sol
da criação

12.

recordo
a ara

sequiosa
pelo sangue
inderramado

clama
ao mar

que incurso
seja

quem a fez
clamar

13.

recordo

ergue-se
o acroama
no corpo
da mulher

acra
é a carne
e o destino

14.

recordo

ariadne
parte

para o coração
da madrugada

ventre
de todos os caminhos

15.

só o alto
aguarda

o instante
da vela

que se consome
e adormece

na arandela

16.

só o alto
decifra

e prova

o poder
do voo

do que adormece
na arandela

17.

não vás

o teu caminho
é o teu caminho

cada palavra
é a exacta
palavra

para o desvelar
do poema

18.

a queda
do fruto

é a árvore
quem o chora

icaria brota
quando à terra
se entrega

o que esta concede
em mesura
de ampulheta

19.

mas há um caminho

um voo
sobre as sílabas
impronunciáveis

onde a música
se oculta
e se revela

sob o olhar
de quem ousa

20.

chegar
é um corpo
cingido
por outro corpo

uma lágrima
na ânsia
de terra

sicília
onde as asas
repousam
sob o olhar de apolo


Xavier Zarco
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