Vida inacabada

Data 19/07/2008 09:05:18 | Tópico: Poemas -> Tristeza


Sou montanha inóspita agreste
Sou regato que resvala para o lago da utopia
Deixo para trás o deserto dos afectos
A atrocidade dos desapegos em cada dia

O ar irrespirável dos cumes mais altos
Os gelos aguçados despedaçando os corações
A brancura cega da neve nos meus olhos
Transformados em tresloucados furacões

Sou rosa vermelha de espinhos
Que sangra numa existência inacabada
Esquecida no muro das lamentações
E nunca verdadeiramente amada

Sou cacto isolado do deserto
Sobrevivente de torturas e pelejas
Acumulo denodo no meu seio feito dor
Para sobreviver sem água
Num calor de aridez abrasador

Sou vida estropiada e tosca
Mutilada e assolada em demoras que me consomem
Mãe a quem foi apartado um filho
Esposa a quem foi sonegado o homem!

Depois da queda no despenhadeiro
Sou pássaro solitário
Como águia ferida que reaprendeu a voar
Pois um abutre ignóbil corsário!
Qual ave louca destruiu o ninho ao passar!



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