Prece

Data 07/03/2007 16:24:53 | Tópico: Poemas

Recebe-me em teus braços ó manhã
que nasces indiferente a mim
que por aqui morro e renasço
em suaves contracções de parido.

Recebe-me em colo amável
e protector do espesso aquário frio
da madrugada onde deixei de pensar.

Recebe-me em ti,
deixa-me medrar no teu seio,
nas tuas cores maravilhosas,
no teu acordar esplendoroso,
nos teus bons dias musicais
recitádos pelos pássaros madrugadores
que flutuam alheios às minhas dores
com suaves cânticos afinados.

Recebe-me, aceita-me como sou
sem questões nem condições,
lava-me, limpa-me, purifica-me,
eleva-me a altos píncaros alados
onde a memória se perde no tempo de ser tempo.

Não recuses esta minha prece
meigamente soprada nos meus lábios
demasiados nédios de fingir que sou gente,
que sou gente que é gente...

Não me recuses...
A tua recusa
fere-me de uma dor mais do que física,
mais do que psíquica...
dor na alma que não cura...
Uma dor mais profunda do que o universo,
onde as perguntas secretas flutuam
e se afogam sem respostas no mais discreto
dos segredos que secretamente guardo.

Recebe-me antes que te tornes tarde
e o dia aqueça e se torne mole e derretido
como gelado que se tardou na mão.

Recebe-me antes que te tornes noite fria
e inquietes as entranhas da terra que
frequentemente querem me engolir.

Recebe-me, por favor,
antes que desespere, e descontrolado
salte para teus redondos braços,
para o teu farto seio de mãe dos desencontrados,
para as tuas coxas e poderosas ancas de mulher,
que delicadamente encanta os necessitados
com sorrisos de sol na tua boca de céu...

Recebe-me em teus braços...
Deixa-me adormecer...



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